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Labirintite

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Labirintite: o que significa afinal? Muitos pacientes dizem que têm labirintite, e muitos médicos também fazem estes diagnósticos nos seus pacientes. Mas afinal, o que é labirintite?

A melhor resposta é: depende. Depende da situação e do rigor com que o termo é utilizado.

Labirintite como termo médico

A labirintite é uma inflação ou infecção do labirinto, tanto de sua parte vestibular, como coclear. Portanto, um paciente com labirinte tem vertigem, náusea, vômito, desequilíbrio, e perda auditiva. Pode ser um quadro mais ou menos grave, e o tratamento depende da causa. Não é nem de longe comum nos ambulatórios especializados que atendem pacientes com vertigem.

Mas se não é tão comum, porque se fala tanto em labirintite?

O termo labirintite se tornou popular e infelizmente passou a significar qualquer tontura, vertigem e desequilíbrio. Tudo entrou neste mesmo grande saco denominado erroneamente labirintite.

Labirintite como termo popular

É muito comum o paciente procurar o médico com queixa de tontura e receber o diagnóstico de labirintite, e na sequência uma medicação antivertiginosa, como dimenidrinato, meclizina, betaistina, flunarizina ou cinarizina. E por trás deste diagnóstico simples e um tratamento fácil, pode haver um grande erro.

Também é muito comum o paciente me procurar como especialista e começar a consulta dizendo: “Tenho labirintite”. Aí eu pergunto: “Como é sua tontura?”. E o paciente, muito consciente do seu diagnóstico continua “Minha labirinte, começou há alguns anos…”, ou “O médico falou que a minha labirintite vem da minha enxaqueca.”

Então vamos esclarecer: labirintite virou sinônimo de tontura, vertigem ou desequilíbrio. Mas se não devemos falar em labirintite, devemos falar em quê? E a que sede tamanho desconforto? Que doença é essa?

Problemas do labirinto de fato causam vertigem, náusea, vômito e desequilíbrio. Mas o contrário nem sempre é verdade, e a pessoa pode ter vertigem, náusea, vômito por problemas que não são do labirinto, podendo inclusive ser do sistema nervoso central, em especial do cerebelo.

Tontura, vertigem e desequilíbrio

Deve-se diferenciar entre tontura, vertigem e desequilíbrio. A tontura pode ser definida como um mal-estar, com sensação de fraqueza, com ou sem escurecimento visual. Na maioria das vezes o labirinto não é o foco do problema deste tipo de queixa. Esta forma de tontura pode ser ocasionada por outras doenças, como anemia, queda de pressão arterial (hipotensão), infecções, distúrbios do sono, etc; ou seja, doenças que nata tem a ver com o labirinto, mas que podem ser graves ou sérias comprometendo muito o dia-a-dia do paciente.

A vertigem por sua vez, se define como alteração da percepção na posição ou no movimento de si mesmo ou do ambiente. Em exemplo é a sensação de rodar, mas pode ser também a sensação de estar caindo, inclinado, ou de estar se movimentando quando se está parado. Neste caso, o labirinto é o responsável, em grande parte das vezes, mas como falado acima, o problema pode estar no sistema nervoso central.

Quanto ao desequilíbrio, a situação é ainda mais complicada. O nosso equilíbrio corporal é mantido por diferentes sistemas integrados, e é uma função extremamente complexa. O labirinto é uma peça desta engrenagem. Sem dúvida, quando o labirinto está doente o equilíbrio é afetado. Mas de novo o inverso está longe de ser verdade. O equilíbrio pode estar muito ruim e o paciente ter um problema que em nada envolve o labirinto.

Portanto, uma rápida definição dos termos, nos faz perceber que o termo labirintite usado no lugar de tontura, vertigem ou desequilíbrio não ajuda em nada e pode inclusive atrapalhar o raciocínio médico.

Então, quais são as doenças que causam vertigem?

Existem várias doenças do labirinto, ou para ser mais amplo do sistema vestibular (aquele conjunto de vias que partem do labirinto e alcançam o sistema nervoso central, responsável por diferentes funções, incluindo o equilíbrio). As doenças mais comuns são: vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), a tontura postural perceptual persistente (TPPP), a migrânea vestibular, a doença de Menière, a neurite vestibular, as vertigens de origem central, a vestibulopatia bilateral, a paroxismia vestibular. Cada uma tem um mecanismo especifico e pode acometer ou não o labirinto. Como cada uma delas tem sua própria estrutura comprometida e mecanismo específico, é fácil entender que há também um tratamento para cada uma. Além disso, a maioria destas doenças quando tratadas de maneira adequada tem um bom prognóstico, com melhora importante.

Portanto, colocar tudo dentro de um mesmo saco denominado labirintite, e tratar tudo da mesma maneira com antivertiginosos, não vai resolver o problema de ninguém. Pode, de fato, diminuir os sintomas por algum tempo, mas não vai resolver nenhum destes problemas.

Resumindo, a labirinte existe, mas não é comum. Diante da queixa de tontura, vertigem, ou desequilíbrio, pacientes e médicos deveriam ir em busca do diagnóstico correto, para ter o tratamento adequado, aumentado assim de maneira significativa, as chances de resolução do problema.

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